quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Resenha: O que é virtual?

LÉVY, Pierre. O que é virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1996. 160p.

Em seu livro “O que é o Virtual” (1996), Lévy trata do processo de virtualização que afeta hoje os corpos, a economia, a sensibilidade e a inteligência das pessoas. Definindo o que é virtual, o autor também analisa e ilustra esta definição, como um processo de transformação de um modo de ser num outro. A presente obra dividida em nove capítulos traz a discussão filosófica (o conceito de virtualização), antropológica (a relação entre o processo de hominização e a virtualização) e sócio-política (compreender a mutação contemporânea para poder atuar nela).
No primeiro capitulo o autor desmistifica uma série de convenções, dentre elas o conceito de virtual. Segundo Lévy, virtual não é o contrário de real, mas sim tudo aquilo que tem potencialidade para se concretizar.

A virtualização afeta os corpos através da cirurgia plástica, body building,da socialização das funções somáticas , do autocontrole dos afetos , nossos sentidos, sentimentos e percepções são afetados e alterados pela tecnologia da informação. “A virtualização do corpo passa a ser uma reinvenção, uma reencarnação, uma multiplicação, uma vetorização, uma heterogênese do humano.” (p.33)

Para Lévy, o texto é um objeto virtual, abstrato, independente de um suporte especifico, desde suas origens mesopotâmicas, ou seja, a leitura do texto é uma atualização das significações do mesmo. O texto é um vetor, um suporte á atualização de nosso próprio espaço mental, uma vez que existe uma relação entre a escrita (tecnologia intelectual) e a memória (função cognitiva), enfim o texto é um ato criativo de construção de sentidos. Essa atualização faz com que o leitor tenha diferentes formas de compreender e ler,através do hipertexto. “O hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertexto”.

No aspecto econômico, o autor afirma que a economia atual é uma economia da desterritorialização ou da virtualização. A virtualização do mercado, ou da economia, mistura a noção clássica de produtor e consumidor. O mercado on-line já não conhece fronteiras e distâncias geográficas ou contingências temporais. Produtores e consumidores são colocados cada vez mais próximos. A informação e o conhecimento são a principal fonte de produção de riqueza.

Pierre Lèvy sugere ainda, que três processos de virtualização fizeram emergir o gênero humano, ao mesmo tempo que configuram uma retomada da autocriação da humanidade: o desenvolvimento das linguagens (virtualização do tempo real e das sensações), a multiplicação das técnicas (virtualização das ações, do corpo e das coisas- ambiente físico) e a complexidade das relações sociais (virtualização da violência).

Na discussão do trívio antropológico, o autor apresenta a gramática, a dialética e a retórica como elementos constitutivos do processo concreto de virtualização. A gramática separa elementos e organiza seqüências, a dialética faz funcionar substituições e correspondências e a retórica separa seus objetos de toda combinatória e referência, para desdobrar o virtual.

Segundo Lévy (1996), a dimensão social da inteligência está intimamente ligada às linguagens, às técnicas e às instituições, notoriamente diferentes conforme os lugares e as épocas. Destacando que, o ciberespaço favorece as conexões as coordenações, as sinergias entre as inteligências individuais, e, sobretudo compartilha o contexto vivo, a paisagem virtual de interesses e competências. Proporcionando aos coletivos inteligentes a recriação do vinculo social mediante troca de saber, reconhecimento, escuta e valorização das singularidades.

A “inteligência coletiva” é reconhecer que a diversidade das atividades humanas, sem nenhuma exclusão, pode e deve ser considerada , tratada , vivida como “cultura”, potencializada pelas novas tecnologias de comunicação, ciberespaço e internet . Esse fenômeno é marcado por uma maior interatividade entre as pessoas; uma constante troca de conhecimentos que gera um conhecimento coletivo, aperfeiçoado, dinâmico.Um conhecimento que está acessível a todos.

Para finalizar, o autor resume, sistematiza e relativiza os conhecimentos discutidos ao longo do livro, utilizando quadros e diagramas para explicar mais claramente sua teoria.

O que Pierre Lévy tenta mostrar durante toda sua argumentação é que através da interface, interatividade, hipertexto, hipermídia, virtual, ciberespaço, cibercultura e apropriação da tecnologia da informação e comunicação o processo de virtualização é um processo onde se construiu e onde se constrói a espécie humana.


Ive Carolina Milani é Pedagoga, Museóloga. Professora da Rede Municipal de Ensino de Salvador. Acadêmica do Curso de Especialização “Tecnologia e Novas Educações da FACED – UFBA .A presente resenha faz parte da avaliação parcial do Módulo I- A dimensão estruturante das tecnologias (abril, maio, junho, julho e agosto de 2010).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ensinar e aprender

Relata a Sra. Thompson, que no seu primeiro dia de aula parou em frente aos seus alunos da quinta série primária e, como todos os demais professores, lhes disse que gostava de todos por igual.
No entanto, ela sabia que isto era quase impossível, já que na primeira fila estava sentado um pequeno garoto chamado Teddy.
A professora havia observado que ele não se dava bem com os colegas de classe e muitas vezes suas roupas estavam sujas e cheiravam mal.
Houve até momentos em que ela sentia um certo prazer em lhe dar notas vermelhas ao corrigir suas provas e trabalhos.
Ao iniciar o ano letivo, era solicitado a cada professor que lesse com atenção a ficha escolar dos alunos, para tomar conhecimento das anotações feitas em cada ano.
A Sra. Thompson deixou a ficha de Teddy por último. Quase meio semestre já havia passado quando finalmente a leu; foi grande a sua surpresa.
A professora do primeiro ano escolar de Teddy havia anotado o seguinte: Teddy é um menino brilhante e simpático. Seus trabalhos sempre estão em ordem e muito nítidos. Tem bons modos e é muito agradável estar perto dele.
A professora do segundo ano escreveu: Teddy é um aluno excelente e muito querido por seus colegas, mas tem estado preocupado com sua mãe que está com uma doença grave e desenganada pelos médicos. A vida em seu lar deve estar sendo muito difícil.
Da professora do terceiro ano constava a anotação seguinte: a morte de sua mãe foi um golpe muito duro para Teddy. Ele procura fazer o melhor, mas seu pai não tem nenhum interesse e logo sua vida será prejudicada se ninguém tomar providências para ajudá-lo.
A professora do quarto ano escreveu: Teddy anda muito distraído e não mostra interesse algum pelos estudos. Tem poucos amigos e muitas vezes dorme na sala de aula.
A Sra. Thompson se deu conta do problema e ficou terrivelmente envergonhada.
Sentiu-se ainda pior quando lembrou dos presentes de Natal que os alunos lhe haviam dado, todos envoltos em papéis coloridos, exceto o de Teddy, que estava enrolado num papel marrom de supermercado.
Lembra-se de que abriu o pacote com tristeza, enquanto os outros garotos riam ao ver uma pulseira faltando algumas pedras e um vidro de perfume pela metade. Apesar das piadas ela disse que o presente era precioso e pôs a pulseira no braço e um pouco de perfume sobre a mão.
Lembrou-se ainda, que Teddy lhe disse que ela estava cheirosa como sua mãe e naquele dia ficou um pouco mais de tempo na escola do que o de costume...
Naquele dia, depois da leitura, quando todos se foram, a professora Thompson chorou por longo tempo...
Em seguida, decidiu-se a mudar sua maneira de ensinar e passou a dar mais atenção aos seus alunos, especialmente a Teddy...
Com o passar do tempo ela notou que o garoto só melhorava. E quanto mais ela lhe dava carinho e atenção, mais ele se animava.
Ao finalizar o ano letivo, Teddy saiu como o melhor da classe.
Um ano mais tarde a Sra. Thompson recebeu uma cartinha em que Teddy lhe dizia que ela era a melhor professora que tivera na vida.
Seis anos depois, recebeu outra carta de Teddy contando que havia concluído o segundo grau e que ela continuava sendo a melhor professora que tivera.
As notícias se repetiram até que um dia ela recebeu uma carta assinada pelo Dr. Theodore Stoddard, seu antigo aluno, mais conhecido como Teddy.
Mas a história não terminou aqui.
A Sra. Thompson recebeu outra carta, em que Teddy a convidava para seu casamento e noticiava a morte de seu pai. Ela aceitou o convite e no dia do casamento estava usando a pulseira que ganhara de Teddy anos antes, e também o perfume.
Quando os dois se encontraram, abraçaram-se por longo tempo e Teddy lhe disse ao ouvido: obrigado por acreditar em mim e me fazer sentir importante, demonstrando-me que posso fazer a diferença.
Mas ela, com os olhos banhados pelas lágrimas, sussurrou baixinho: você está enganado! Foi você que me ensinou que eu podia fazer a diferença, afinal eu não sabia ensinar até que o conheci.
Autor desconhecido

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"Só desperta paixão de aprender, quem tem paixão de ensinar."
Paulo Freire