segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Deficiência, Inclusão e Politicas Públicas

Sinaia Guanaes
No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000) existiam 24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência física ou mental, o que representa um número relativamente alto, correspondente a aproximadamente 10 a 15% da população do país. Estima-se que esse número, em 2009, tenha crescido para algo em torno de 27 milhões de pessoas.

A maioria delas tem deficiência visual parcial (baixa visão ou visão subnormal) e cegueira (quando a deficiência visual é total); em seguida, vêm aquelas com alguma deficiência motora, em terceiro está o grupo dos deficientes auditivos, depois as pessoas com deficiência mental. Entre essas classificações há, também, os que acumulam múltiplas deficiências. Não se pode fechar os olhos e fingir que eles não existem, por isso, atualmente, mais políticas públicas de real inclusão devem ser pensadas e postas em prática para integrar e, mais que isso, incluir também esses cidadãos brasileiros, ou fazer as atuais políticas públicas serem efetivadas e/ou cobradas sua sistematização.

Mas a inclusão, enquanto processo social, vem ganhando destaque no Brasil e no mundo, nas últimas duas décadas. A Educação Inclusiva preconiza que todos os alunos, independente de sua condição orgânica, afetiva, sócio-econômica ou cultural, devem ser inseridos na escola regular, com o mínimo possível de distorção idade-série. A cada dia, mais políticas públicas devem surgir para garantir que todas as pessoas com deficiência possam usufruir, sem preconceitos ou exclusões, de uma vida familiar e social comum, como qualquer cidadão tem direito.

Como destaca Cunha e Cunha (2002, p.12), “As políticas públicas têm sido criadas como resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio interior, sendo a expressão do compromisso público de atuação numa determinada área a longo prazo”.

Acreditamos, ainda, na necessidade de que as discussões e avaliações do planejamento e da sistematização de ações nas políticas públicas devem ser acompanhadas, ou melhor, possam incorporar pessoas que estudem / pesquisem a área das deficiências e inclusão, para que tenhamos um olhar mais técnico, científico e menos leigo e emocional. O dito se justifica, pois observa-se, atualmente, que discussões e até mesmo políticas públicas no sentido de promover a inclusão escolar e social das pessoas com deficiência, acabam, muitas vezes, apenas acontecendo, sendo elaboradas, por políticos, que passam por situações desse tipo em casa, que têm filhos com deficiência, e sentem na pele as dificuldades encontradas no dia a dia para adaptar essa criança no âmbito social, ou melhor, para que a sociedade se adapte a essa criança.

Vale ressaltar, contudo, que o processo de inclusão não é um processo regionalizado ou municipalizado, essa consciência da necessidade de inclusão das pessoas com deficiência é de âmbito mundial, globalizado, como diria Sassaki[1] (2005) "[...] A inclusão é um processo mundial irreversível". [“...] O mundo caminha para a construção de uma sociedade cada vez mais inclusiva.”



[1]  AVAL – Revista Avaliação de Políticas Públicas. – v. 1 n. 1 jan./jun.(2008). – Editora Arte Escrita/MAPP/UFC. (Fortaleza, CE.) Disponível em. http://wpmapp.oktiva.com.br/wp-aval/files/2009/09/revistaaval.pdf. Acessado em: 08 de Janeiro de 2011

Bibliografia:

1. CUNHA, E. de P.; CUNHA, E. S. M.. Políticas públicas e sociais. In:CARVALHO, A.; SALES, F. (Orgs.) Políticas públicas. Belo Horizonte:Editora UFMG, 2002.
2. BRASIL. IBGE - Instituto Brasileira de Geografia e Estatística

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Educação e mídia: a realidade educacional

De repente, a constatação. A mídia atua fortemente em todos os setores da sociedade, influencia na formação biopsicossocial dos indivíduos, ou seja, a mídia tem grande alcance e atuação importante na elaboração de opiniões, de comportamentos e porque não dizer, na formação dos indivíduos contemporâneos. Em seu livro Tecnologia e Educação: as mídias na pratica docente (2008), Freire afirma que, na contemporaneidade, vivemos com clareza e predominância da mídia nas atividades socioculturais. A mídia tem presença marcante no trabalho, na vida diária e no entretenimento, com um poder de sedução, muitas vezes difícil de gerar resistência aos seus apelos.

Hoje, na era da informação e comunicação, dos apelos consumistas e regulação da vida dos indivíduos por meios da mídia e da moda, cabe-me perguntar: é possível ulizar a comunicação midiática na escola para auxiliar na formação infanto-juvenil do consumo consciente e analise das informações veiculadas pela midia? A discussão torna-se ainda mais ampla quando lemos as palavras de Petermann (2006), que afirma: a publicidade é uma prática social persuasiva, que busca o condicionamento do homem a um determinado fazer, organiza seus textos principalmente através de imagens, de sons e de textos, entre os quais circulam sentidos determinados. Assim, que podemos dizer que o texto publicitário é formulado a partir de textos verbais (escritos ou falados) e não-verbais (imagens, sons, cheiros, texturas), sendo que tal característica permite que seja considerado como um texto multimodal (Kress e van Leeuwen, 1996), que combina diferentes códigos semióticos. De forma geral, é possível inferir, de acordo com os autores citados acima, que toda comunicação social é multimodal: uma combinação de gestos, falas, cores, cheiros e posturas.

Os elementos para analisar, questionar e refletir sobre este assunto são amplos e devem ser delimitados pela escola, para junto com os educando em sala de aula e sua familia proporem uma mudança de comportamento. Para que esta discussão ocorra no âmbito educacional e social é necessário, superar a concepção de sermos apenas consumidores da mídia e sim entendê-las como fruto de uma produção social. O uso que pode ser dado a essas tecnologias vai depender do tipo de sociedade que temos e, principalmente, do tipo de sociedade que queremos. Na escola pode representar um movimento ímpar, uma vez que ao pensarmos na redução das distâncias estamos pensando na possibilidade de construir o que Pierre Lévy chama de Inteligente Coletivo. Escolas que tenham uma maior integração com outras escolas e com o mundo contemporâneo. Escolas que tenham dentro de suas propostas pedagógicas uma inserção maior no mundo da mídia. Aqui também num duplo sentido: de um lado, com a presença de programas, emissões, emissoras e todas as fontes possíveis de informação. De outro, como possibilidade de efetivamente produzir. Como a possibilidade de fazer de cada espaço escolar um espaço de produção coletiva e, principalmente, de emissão de significados (Pretto, 2006).

Nesta perspectiva de fazer o espaço escolar em um espaço de produção coletiva, é preciso, segundo Elizabeth Dantas, discutir com as crianças e jovens os apelos midiáticos e sua influência negativa em suas vidas, ajudando-lhes a diferenciar o real vivenciado por cada um em sua família, da “realidade virtual” criada pelo mundo da publicidade. A família, também é convidada a participar da discussão quando as relações e comportamentos sociais as crianças e jovens é afetado diretamente pelos aspectos negativos da mídia, destacam-se: o bullying, a obesidade e erotização infantil, consumo, egoísmo, o ter para ser aceito no grupo e violência.

A educação deve buscar ressignificar os movimentos comunicativos inspirados na linguagem do mercado da produção de bens culturais, para que possamos através do poder da comunidade, exercicer a cidadania, utilizando os recursos tecnológicos e técnicas comunicativas para a transformação social, a aprendizagem e reelaboração de conceitos e comportamentos sociais. E você caro leitor o que acha?



REFERÊNCIAS

BONILLA, Maria Helena. A práxis pedagógica presente e futura e os conceitos de verdade e realidade frente às crises do conhecimento científico no século XX. In: PRETTO, Nelson De Luca.Tecnologias e novas educações. Salvador : EDUFBA, 2005. p. 70-81

LÉVY, Pierre. O que é virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1996. 160p.

___________.  Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.260p.


PETERMANN, Juliana. Imagens na publicidade: significações e persuasão. In: UNIrevista - Vol. 1, n° 3: (julho 2006)

PRETTO, Nelson De Luca. Linguagens e Tecnologias na Educação. In Cultura, linguagem e subjetividade no ensinar e aprender, organizado por Vera Candau, pela DP&A, paginas161-182.

SÁ, M. R. G. B.; TOURINHO, M. A. C.; FAGUNDES, N. C. As crises do conhecimento científico e a práxis pedagógica. Noésis, Salvador-Ba, v. 1, n. 1, p. 9-17.

O poder da mídia

sábado, 22 de janeiro de 2011

Corpos Mutantes

Corpos Mutantes






COUTO Edvaldo Souza (Org.); GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

 
  A seguir, estão postados quatro comentários de alguns textos do referido livro.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O corpo e a expressão videográfica: a videoinstalação como estratégia corporal


Danilo Silva Barata



O autor analisa neste texto, o corpo, suas inscrições e seus acontecimentos (cargas sociais, econômicas e históricas), tendo como pano de fundo, as apresentações do corpo na arte videográfica, discutindo a estética e as imposições corpóreas promovidas pela moda e publicidade. Os padrões estéticos ditados pelo mundo fashion influenciam não só o modo de vestir, mas também na construção social do corpo.  Ou seja, esses padrões levam às pessoas a busca da construção de uma imagem perfeita/ideal, impulsionada pela sociedade do consumo que seduz o individuo a “comprar” um corpo físico perfeito através de cirurgias plásticas, introdução de próteses de silicone e lipoaspiração. Concluindo-se que o ideal de beleza não é mais eterno, modifica-se a cada semana.
 Os ideais de beleza são determinados através das telas de cinema e TV, neste contexto o corpo absorveu um aspecto camaleônico, através das intervenções cirúrgicas e determinados atributos como: beleza, vigor, juventude, incompletude e inquietações. Mostram que podemos disfarçar as inscrições dos acontecimentos na superfície da pele, mas por trás do aparente, dentro de nós, estão todas as marcas, sofrimentos e alegrias perdidos, imperfeições e incompletudes que traduzem o que somos. (Couto, 2003)

O corpo é uma fonte inquietante e transversal de comunicação, sendo palco de apresentações e de celebrações na cultura ocidental, ampliando o sentido do fazer artístico e trabalhando potencialidades dos novos meios.








Corpus ex machina: contatos imediatos porque mediados


Maria Ambrosina de Oliveira Vargas

Dagmar Elisabeth Estermann Meyer


As autoras apresentam neste texto o processo de “ciborguização da enfermeira” no contexto da terapia intensiva, atendendo PCR (parada cardiorespiratória) . A enfermeira intensivista é uma profissional habilitada e com uma visão high-tech do corpo – uma visão que concebe esse corpo, entre outras coisas,como um condutor ampliado de informação conectado a um complexo sistema computacional.

Este corpo está conectado a máquina transmitindo imagens ao monitor, que são lidas e interpretadas pela enfermeira intensivista, que são usuárias de um programa de computador que estabelecem contatos mediados e imediatos pelas tecnologias da informação. Neste cenário, a ciborguização da enfermeira diz respeito ao estabelecimento ou produção de novas relações entre conteúdo e informação, esta profissional está conectada a tríade: computador- profissionais- equipamentos.

As enfermeiras tecnologicamente mediadas ou desenvolvendo ações tecnologicamente potencializadas ampliam sentidos: escutam,olham,deslocam-se e pensam com e através das máquinas. Para finalizar cabe-nos refletir e reconhecer o quanto nós humanos estamos nos tornando parecidos com as máquinas, causando-nos assombro. As autoras mostram que este assombro inserido no processo de desconstrução “da” verdade hegemônica , pode nos permitir um confronto com outros tipos de verdade e, com isso, possibilitar-nos outros modos de experienciar o ser e o viver.







Corpos amputados e protetizados: “naturalizando” novas formas de habitar o corpo na contemporaneidade


         Luciana Laureano Paiva



O presente texto trata da modificação sofrida pelo corpo após uma amputação, como o individuo se vê e é visto pelo outro como um texto a ser lido e interpretado, e como o corpo é uma superfície de inscrição das experiências vivenciadas em cada etapa da vida.


Os nossos corpos são continuamente transformados pelas experiências que vivenciamos, ele é o nosso ponto de partida e chegada , o nosso principal refúgio.( Cardoso Jr.,2002). Podemos então dizer que, em nosso corpo guardamos nossas vivências individuais e coletivas, promovendo mudanças internas e externas, oriundas de vários fatores, alguns inerentes ao envelhecimento ,outros por opção ( como o desejo de mudar: intervenções cirúrgicas,etc) para aumentar o seu “ prazo de validade”.

“Perder” uma parte do corpo numa sociedade que privilegia a eficiência e o dinamismo, significa perder também a normalidade.Como nosso corpo é a nossa principal referência para construirmos nossa identidade, a amputação ocasiona a morte simbólica de um estilo de vida , de uma forma de ser e de uma identidade. Tornar-se amputado é sustentar um corpo diferente da maioria, da representação corporal tida como normal.

Usar uma prótese significa deixar seu corpo entrar em contato com outro corpo, transpor seu limite corporal e experienciar vivências novas, transformando a imagem corporal de si e do outro, proporcionada pela intimidade com a máquina. A mixagem entre o orgânico e o artificial é uma nova possibilidade de ressignificar a “morte” de uma parte do corpo e de um estilo de vida para renascer numa nova configuração corporal.

 
 

  A performance do hibrido: corpo,deficiência e potencialização


Varlei de Souza Novaes


Esse texto analisa a performance dos corpos dos atletas portadores de deficiência física que utilizam como prótese a cadeira de rodas, potencializando seus usos. Esses atletas são sujeitos de corpos recortados,que durante a atividade esportiva, são mediados de tal forma pela tecnologia que editam a reconstrução potencializada de suas funções na busca pela superação de seus limites, onde em alguns momentos confundem-se o humano e a máquina.


A partir da necessidade de sobrevivência, o atleta portador de deficiência resignifica seu corpo hibrido, investindo nas possibilidades e apropriações tecnológicas potencializadoras, adaptando as rotinas de sua existência.